Tradição Ritualística

Por Carlos Buby

Interessado no processo do desenvolvimento espiritual em sintonia com a natureza, o Templo Guaracy estruturou sua liturgia com base nos fundamentos da Umbanda. O Templo Guaracy entende que a cultura afro-ameríndia-brasileira, mais que um simples conjunto de manifestações folclóricas, é uma proposta pura e espontânea de reflexão e interação com a totalidade. A nomenclatura adotada a partir das línguas africanas e do idioma Tupi-Guarani, observada nos rituais e publicações do Templo Guaracy, representa o respeito histórico do Templo ao período sombrio da escravidão, que se prolongou por vários séculos e forjou, nas peles negra e vermelha, os símbolos da Umbanda.

Para efeito de estudos, o Templo Guaracy define a Umbanda como Filosofia, Ciência Oculta, Arte e Religião com a finalidade de coordenar o fenômeno da comunicação entre os planos material e imaterial da existência por meio do desenvolvimento da percepção mediúnica ativa ou latente em todos os seres vivos. Na Umbanda, apesar das bases filosóficas serem as mesmas, os fundamentos ritualísticos sofrem variações de Templo para Templo. Isso, muitas vezes, gera distorções, que podem resultar em interpretações contraditórias entre os princípios essenciais e os rituais praticados.

A liberdade de expressão religiosa, associada às diferentes formações sócio-culturais dos dirigentes de Templos Umbandistas, colaborou para a formação de grupos com tendências distintas. Foram, então, criados termos diferentes para definir e justificar os respectivos métodos. Surgiram, assim, a Umbanda Branca, a Umbanda de Mesa, a Umbanda Esotérica, a Umbanda Popular, a Umbanda de Nação, etc. São apenas alguns exemplos que caracterizam diferentes modalidades ritualísticas e doutrinárias, todas, contudo, buscam atingir os mesmos objetivos.

Apesar de não comungar com a ideia de adjetivar uma tradição, fragmentando-a, a posição do Templo Guaracy em relação a essa pluralidade de modalidades de Umbanda é de respeito. Um respeito fundamentado no simples fato de reconhecer, por alegoria, que a mesma água doce se manifesta de várias maneiras e exerce diferentes funções na natureza. Por que a Umbanda, a exemplo da água doce, não poderia ser apresentada como rio, orvalho, chuva, cachoeira, fonte, neve, vapor, etc., alimentando a tudo e a todos com o encanto mágico do “Ciclo de suas Águas”?

Ritualisticamente, o Templo Guaracy fundamenta-se nas tradições dos povos africanos já influenciados pelos aspectos doutrinários Cristãos. Entretanto, uma das metas do Templo prevê a erradicação do sincretismo religioso do contexto representativo. As relações estabelecidas entre os Orixás africanos e os Santos católicos durante o período da escravidão são vistas, pelo Templo Guaracy, como dados históricos, e não como fundamentos litúrgicos. Por se tratar de uma instituição espiritualista e não religiosa dogmática, o Templo Guaracy respalda seus ritos na Luz Espiritual contida na filosofia de todos os mestres, em que toda manifestação de sabedoria, seja ela oriental ou ocidental, é bem-vinda.

A Umbanda, como ressurgimento ritualístico, é considerada brasileira e, a exemplo do Brasil, ainda se encontra em processo de formação. Não obstante, a Síntese da Luz proposta em seus fundamentos está perfeitamente afinada com a Nova Ordem Mundial (Consciência Espiritual). Sobre esse aspecto, o Templo Guaracy é incisivo ao abolir dos seus rituais conotações excessivamente místicas, oriundas de folclóricas superstições.

“A Tradição do Buscador
é não ser tradicional.”
Carlos Buby