Miscigenação da Palavra

Por Carlos Buby

O advento da rede mundial trouxe para o homem moderno um novo conceito sobre a arte de se comunicar. Nos primórdios do Tempo, a transmissão oral era restrita aos que habitavam a mesma aldeia. A natureza nômade, cada vez mais enfraquecida com o despertar da consciência comunitária, deu lugar às grandes concentrações étnicas e a formação de costumes e tradições herméticas. Com o avanço da navegação marítima, teve início a grande investida intercontinental do Homem. Surgiram os primeiros indícios das miscigenações e, tal qual uma forma primitiva de globalização, propiciou intercâmbios importantes para a evolução das relações humanas e o desenvolvimento sócio cultural de toda a humanidade. Não quero adentrar ao mérito ético dos métodos utilizados para criar esses intercâmbios, e nem julgar seus padrões morais. Pretendo apenas demonstrar que as misturas culturais também são capazes de influenciar e alterar o sentido das palavras.

Isto significa que todo mecanismo de comunicação, por mais eficiente que seja, como é a Rede Mundial de Computadores, dependerá, sobretudo, da precisão filosófica contida nas palavras migrantes. Termos migrados da Holanda para o Nordeste brasileiro, palavras africanas migradas para Cuba são alguns exemplos da miscigenação dialética. Uma população, constituída a partir de diferentes dialetos, como é a Umbandista praticada pelo Templo Guaracy, necessita estar atenta às diferentes interpretações dadas a cada termo utilizado em sua liturgia.

“Carrega tua canoa com as oferendas do mundo,
o tempo é todo teu, mas o Rio não espera.”
Carlos Buby