Cosmogonia

Por Carlos Buby

“Desde que o mundo é mundo, toda cultura, toda religião desenvolveu teorias e mitos sobre a origem do Universo. A esses relatos da criação, em geral muito ricos em símbolos, dá-se o nome de cosmogonias. A irrupção do ser para fora do nada não pode, contudo, ser objeto da história por ser, por definição, sem testemunhas. Sua causa primeira é também intangível e incognoscível. A única realidade que se pode perceber é o fruto da criação, a criatura, e não a própria criação. Toda cosmogonia, de tal forma, aparece e se estrutura a partir da observação e da compreensão dos efeitos tangíveis, e não da causa primeira. O Templo Guaracy nos legou um sistema cosmogônico abrangente e, ao mesmo tempo, facilmente compreensível. É o Xirê dos Orixás, nome que o Templo utiliza para designar esse mapa das origens do mundo, elaborado a partir da combinação de informações oriundas da sabedoria das entidades espirituais em conjunto com experimentos da ciência moderna”.
(Luis Pellegrini – Revista Planeta)

Os elementos da natureza, suas leis e processos são peças de base que permitiram a criação do Xirê. Coerente com seus princípios cosmogônicos, o Templo Guaracy instituiu a natureza como seu livro sagrado. Com base na observação e na interação com a natureza são feitas as leituras da vida, e os “encontros” com Deus acontecem pelas vias da percepção.

Quando foi fundado, em 1973, o Templo Guaracy vislumbrava a criação do mundo com base nos ensinamentos católicos. Na ocasião, ouvia-se a palavra de Deus segundo a visão de fervorosos sacerdotes. Posteriormente, com a compreensão do Xirê dos Orixás, a comunidade Guaracyana foi estimulada a ver e a perceber a palavra de Deus manifestada pelos diferentes fenômenos da natureza.

A fluidez de um rio e suas transformações, a dinâmica das florestas, a migração dos pássaros, a reprodução dos animais, as estações do ano e seus efeitos nos ensinam sobre os ciclos de construção e manutenção que se reconstroem em outra dimensão de forma inteligente e sem pressa representando, por isso, a base de sustentação da doutrina do Templo Guaracy. Quando associamos a sabedoria da natureza à luz do nosso conhecimento, recriamos o mundo. O Templo Guaracy não comunga com a ideia de que o homem reinará sobre os pássaros, os peixes e os animais. A prepotência humana não tem colaborado muito com a estabilidade do universo e o bem-estar do próprio ser humano.

A Filosofia Guaracyana prega o respeito mútuo entre todas as formas de vida que habitam nosso planeta. O Xirê do Templo Guaracy reconhece nos quatro elementos (Fogo – Terra – Água – Ar) e nas combinações de suas dezesseis variantes (Elegbara – Ogum – Oxumarê – Xangô – Obaluaiê – Oxóssi – Ossãe – Obá – Nanã – Oxum – Iemanjá – Ewá – Iansã – Tempo – Ifá – Oxalá) as forças e energias básicas responsáveis pela composição da vida e sua dinâmica no mundo das formas. Na concepção Guaracyana, tanto os elementos como suas dezesseis qualidades são forças e energias da natureza que, por efeito da antropomorfia, transformaram-se em Orixás.

Do ponto de vista religioso, essa visão é simplista para tratar um assunto tão complexo, que envolve tradições milenares com influências culturais que antecedem ao próprio Brasil. Entretanto, é oportuno frisar que no Brasil os Orixás são cultuados dentro de cada costume e tradição. O Xirê do Templo Guaracy resgata a história de um povo que construiu uma nação com a libertação da alma.

“Canta para tua Alma porque
o Universo já Dança por Ti.”
Carlos Buby