Quando os Símbolos Falam

Por Carlos Buby

Se considerarmos a natureza como impressões digitais do dedo de Deus, certamente seriam as do dedo indicador. Aquele que nos aponta o caminho a ser seguido, enquanto que os dedos mínimo, anular e médio indicam o próprio Criador, e o polegar aponta para o Céu. No mundo em que habitamos, a força contida em pequenos gestos denota o quanto os símbolos podem nos ajudar a compreender os mecanismos da vida. 

A simbologia umbandista, rica em detalhes, possui conteúdos primitivos da maior relevância no mundo moderno. O significado das cores, paramentos, gestual, danças, pontos riscados (sinais cabalísticos), etc., transcendem a forma objetiva e, de alguma maneira, tentam reproduzir manifestações da natureza. Portanto, a leitura dos símbolos umbandistas não deve se limitar apenas ao entendimento intelectual. É necessário perceber as estruturas simbólicas existentes nas Leis Naturais e, sem fanatismo, utilizá-las nos diferentes níveis de comunicação. 

A negação das representações simbólicas pode ser comparada à rejeição aos sonhos. Negá-los apenas porque são sonhos é o mesmo que tentar destruir o futuro por antecipação. Os atos litúrgicos, presentes na maioria das religiões, não deixam de simbolizar a sinalização dos caminhos que levam ao Pai Celestial. Entretanto, precisamos estar atentos para não confundirmos as representações com o que elas representam. Do contrário, estaríamos confundindo os caminhos que conduzem a Deus com o próprio Deus. 

A fim de evitar os excessos representativos, o que fatalmente induziria os adeptos ao fanatismo, as consagrações realizadas no Templo Guaracy obedecem rigorosos critérios ritualísticos em conformidade com a Filosofia essencial. Em função disso, as representações devem abranger três dimensões: Física – Intelectual – Espiritual. 

Do ponto de vista físico, os elementos ou espaços utilizados para as consagrações devem ser os mais naturais possíveis, evitando-se com isso a utilização de produto sintético, plástico, acrílico, etc. Esses produtos não têm bom desempenho energético. Os espaços consagrados às representações sagradas devem, por natureza, apresentar características ideais para os fins a que se destinam. Sua preservação é prerrogativa exclusiva dos médiuns preparados para mantê-los. A manutenção dos Espaços Sagrados requer a realização de ritos regulares, específicos e bem dirigidos. 

A consciência intelectual sobre os fundamentos das representações simbólicas e suas implicações no desenvolvimento mediúnico são primordiais ao estabelecimento de uma relação harmoniosa entre o médium e seus valores sagrados. Essa forma de consciência é decisiva na construção das estruturas sagradas do indivíduo, ao mesmo tempo que lhe fornece referências éticas objetivas. Não nos agrada a ideia de promover desenvolvimentos mediúnicos apoiados apenas em repetições automatizadas. 

A dimensão espiritual dos símbolos é um lugar que só podemos acessar trilhando os complexos caminhos da crença. O significado espiritual de uma simples floresta não é mensurado apenas pela sua beleza ou pela biodiversidade que apresenta. Essas características podem indicar uma qualidade de Oxossi (Orixá das Matas), mas não o seu plano espiritual. Se analisarmos os fatores de convergência e divergência que existem nas relações entre o observador (ser humano) e o observado (floresta), perceberemos que o plano espiritual dos símbolos é proporcional à capacidade de convergência existente no interior do observador, ou seja, o acesso à dimensão espiritual dos símbolos dependerá da capacidade mediúnica do observador de “incorporar” as energias sutis da floresta, motivado pela crença de uma Luz Filosófica. 

“A fome dos generosos
é a sede de servir.”
Carlos Buby